Pedro Vieira é um ilustrador que sigo com alguma frequência no seu blogue irmaolucia. Em 2010, quando participei no encontro de escritores Correntes D'Escritas, na Póvoa de Varzim, parece que o meu discurso lhe motivou esta ilustração:
Imagem: "tiago nené e o poeta predador da estranheza de burton, entre outros demónios"
Por: Pedro Vieira
Dia 21 de Março, Dia Internacional (ou Mundial) da Poesia. É no CATITA & COMPANHIA. Dizem que chega a Primavera. Para já, para já chegam poemas sobre Portugal. Luís Ene, Fernando Cabrita, Tiago Nené e outros. 22h, no Catita, em Olhão, Av. 5 de Outubro, 60.
UM EXCERTO DE EXPERIÊNCIA
não posso dizê-lo às 5.45 no ponto b.
e é um excerto de experiência
esse alcançar de familiaridade com o amor
esse julgar alguém
como base para o valorizar
mas posso dizê-lo às 4.44 do dia seguinte
já no ponto a.
na versão de um poeta deslumbrante
na canção favorita e mal gravada
ou dentro de uma qualquer outra
realidade
e agora são 6.36 de um dia intemporal
e é hora do lanche
e é um excerto de experiência
esse interrogatório apertado
a toda a tradução das coisas originais
e espontâneas.
ninguém escuta o relógio ainda quente
das 2.56 da tarde de um dia anterior,
o quente perdeu-se por entre o frio
de outros mundos.
um excerto de experiência até a morte
acontecer no subsolo,
como premiação do desconsolo.
um ponto c. projecta o poema,
a clarividência amplamente difundida
na insignificância final do esquecimento.
Tiago Nené
in Relevo Móbil Num Coração de Tempo
Lua de Marfim, 2012
Prefácio de Victor Oliveira Mateus
O meu livro "Relevo Móbil Num Coração de Tempo" (Lua de Marfim, 2012) está à venda na livraria Poesia Incompleta, em Lisboa.
O poeta Victor Oliveira Mateus, que fez o prefácio ao meu livro Relevo Móbil Num Coração de Tempo, disponibiliza-o no seu blogue A Dispersa Palavra.
Criei este blogue como uma espécie de diário irregular. Conto colocar aqui o que for vivendo. O título do blogue deve-se ao titulo que escolhi para o meu mais recente livro de poesia, lançado há dias pela editora Lua de Marfim. Apresentado em Lisboa recentemente (na livraria Pó dos Livros) pelo crítico literário António Carlos Cortez, teve também uma apresentação em Faro, no Pátio de Letras, pelo poeta Fernando Cabrita.
O BOM POETA
a António Ramos Rosa
o poeta inventa um leitor abstracto,
a sua extensão lível.
o poeta não consegue ler os seus poemas,
o bom poeta apenas escreve os seus poemas;
escrever poemas sem ler os poemas que se escreve
é perfeitamente possível
se o poeta estiver demasiado perto de cada palavra.
o grande poeta dorme dentro de cada palavra,
e eu não me conheço quando escrevo isto.
dentro de que palavra estarei?
que sílaba servirá de travesseiro aos meus sonhos?
creio que as primeiras palavras que escrevi
diziam que o poeta inventa um leitor abstracto,
não me lembro da versificação certa.
não importa.
apenas exponho permissões em cada sentimento,
e é isto o poema:
um grande sentimento amplificando
a inconfundível prosa de toda a vida.
*
JARDINS HAMARIKYU
nos jardins hamarikyu
onde o céu não é longe
saímos de barco trazendo beijos que
apanhámos no lago,
bem junto ao último poste de luz,
para lá do fim como antes o conhecíamos;
lá se escrevem poemas com mil anos
sem importar quem os vai ler,
e lá os nossos beijos, uma vez libertos,
brincam na relva atrapalhando-se uns aos outros,
como pessoas doentes de infância,
hoje passaram mil anos
e voltámos ao mesmo poema que
havíamos escrito nos jardins hamarikyu,
à procura de alguns beijos perdidos
no nosso oriente oculto;
alguns habitantes de tóquio olham-nos confusos,
lêem-nos nos olhos um intemporal esquisito e uma
omnipresença pecadora, um dia à luz de vela;
e agora revemos tudo com as mãos entrelaçadas,
agora apagamos a luz,
e entramos no mesmo sonho.
Tiago Nené
in Relevo Móbil Num Coração de Tempo
Lua de Marfim, 2012
Prefácio de Victor Oliveira Mateus
Afinidades
Amadeu Baptista, de Amadeu Baptista
Bibliotecário de Babel, de Jose Mário Silva
Base de Dados (emails) Empresas portuguesas
Búho Branca, de Mariana Campos
Dispersa Palavra, de Victor Oliveira Mateus
HRN Advogados Algarve (Faro - Albufeira)
Logros Consentidos, de Inês Lourenço
Ortografia do Olhar, de Graça Pires
Palavra Ibérica, de Fernando Esteves Pinto
Porosidade Etérea, de Inês ramos
Poesia Distribuída na Rua, de Rui Almeida
Poesia Ilimitada, por João Luís Barreto Guimarães
Rocirda Domencock, de Ricardo Domeneck